Doces e travessuras




Odeio quando certas coisas conspiram a meu favor. Chega do nada uma sensação de perigo sempre irresistível. Sobrenatural. Como se houvesse em mim uma possibilidade grotesca de um fim doído. Mas que mesmo doído, vivido. Além da alma, e mais: além das entranhas. Parece em tudo isso haver um erro inconsciente de compatibilidade a coisas óbvias. Eu gosto mesmo é do estranho. As amigas sabem disso, eu caminho com muito cuidado pelo estrago. Não, não quero, não pode ser bom. Eu gosto. Sabe o garoto que pede legumes a mãe em um supermercado cheio de guloseimas? É mais ou menos por aí. Talvez nem tanto assim, é mais estranho: é como se você visse no xuxu o cheiro de chocolate quente derretendo, aí ele queima sua língua, te deixa toda deliciosamente lambuzada, e vem um gosto apimentado, um gosto louco, uma mistura louca de sensações provocada por um pingo de nada de chocolate. Quando tudo acaba você vê que era o mais amargo jiló. Mais que jiló. Era aquele legume que você tem alergia. Um saboroso gosto diferente, definitivamente, infinitamente, eternamente incombinável. Você e ele, o dito cujo: incompatíveis. Ele só fazia mesmo brincar com o aguçado dom da sua língua. E depois você descobre que ele foi dilacerando devagar suas células, como um câncer. De grande utilidade seriam certas situações tentadoras nos aparecer com a plaquinha “DANGER”, enfeitadas com um grande contorno vermelho. Seria tão bom o único lugar a sentar não ser do lado dele, não aceitar o pedido dele pra adicionar em msn’s, não tocar aquela música e não surgir aquele clima quando ele tava tão perto de mim. Muito bom não ouvir seu dedilhar na calçada. Seria. Seria muito bom me apaixonar pela vida de um jeito básico, bem normal. Eu não gosto das situações tão facinhas, boazinhas. As cenas mais dilatadoras do globo ocular e mais efervescentes de células que borbulham em adrenalina, são aquelas em que Deus parece brincar de publicitário e cria algo bem PLOFT!. pra parecer brincar com a minha cara. Fico assim: com a maior cara de pata. Com a mente uns três dias abismada com coincidências que causam medo. Eu gosto mesmo é dos loucos. Gosto da loucura. Por que talvez estejam nelas as coisas novas e boas a se viver. Medonhas como uma infantil vontade de escalar o armário pra pegar o doce lá no alto. E pega o doce. Cai, se arrebenta. Arrebenta com a cara, que fica até um bom tempo assim. Mas conseguiu o doce. Sabendo que vai quebrar a cara de novo, menina! Sei do escândalo, sei que não sei medir, sei também prever, e sei desistir na hora certa que o gosto acaba. Tô achando o seguinte: ser bonito não é o segredo, o segredo é saber fazer. Nem que seja sem querer, fico pensando o quanto me enlouquece quando fazem bem a coisa. É doido, é fora do comum, é além dos clichês. É uma loucura gostosa e criativa. Vida exalando paixão e criatividade. Isso me pega com gosto, me descabela razões que ainda possuo. E é meu, só meu. Com o passado jogado fora, ainda dessa forma afirmo, com a mão batendo forte na mesa, que o meu olhar sobre aquilo foi tão lindo. Sublime demais. Forte, forte, forte! E bom. A ponto de você não imaginar como. Era meu olhar. Não sei se foi de verdade. Mas meu olhar foi. Por isso até chegar aqui veio crescendo uma coragem de mergulhar nas conspirações . Nua e de cabeça. Só mergulhar, como já fiz das outras vezes. Sentir o chocolate pirado me atrair. Me conquistar, aos poucos, de manso, e suave. Flores não, deixar rolar, saber criar. Eu gosto é do gosto.

"que o acaso é amigo do meu coração"

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