A mocinha e suas flores


A mocinha da aldeia de pescador foi caminhando ao encontro do seu amado homem de bronze, desceu a praia, e tocou os dedos dos pés na água fria e verde. Verde como os olhos daquele rapaz, o de bronze, que pra mocinha era mais ouro do que qualquer outra coisa. Um abraço foi o elo de uma eternidade de dois dias sem o mocinho ter em seus braços sua pequenina moça do litoral. Seu vestido balançava pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, em conseqüência da brisa. Ela tinha flor nos cabelos, havia nascido ali, e desabrochavam cada vez que se colocava perto ao metal. A mão ajeitando os cabelos longos escorridos e da carícia alheia fez-se um beijo, puro e primeiro. Beijo que faz o coração transpassar o limite dos batimentos e ainda assim navegar sobre a calmaria de anjos cantando em nuvens. Ali existia a deusa do mar dele e o príncipe imperfeito e tão esperado dela. A donzelinha não se fez por esperar, correu pra água e se banhou, sereia como só ela, fez canto ao seu rapaz e este foi a seu encontro. Jorrava do alto o sol da tarde, a luz colorida e o anúncio da noite. A mocinha era a mulher mais linda que ele já vira em toda sua vida, era a sua pedra mais preciosa, seu fecho de luz nos dias mais escuros. Era sua manhã, e sua noite. A imensidão do oceano e a delicadeza de uma semente em extinção. Ao olhar para ela, ele via a vida. O paraíso era infinito quando na casinha dela ele chegava, os copos brindavam sozinhos e faziam eclodir melodias.
–Mãezinha, põe mais tapioca na mesa que hoje minha jóia tá aqui (dizia a mocinha). E depois de mais de ano de gomas a mais na panela os sinos da igreja da pequenina cidade vem avisar ao amado que sua vida lhe foi arrancada. Que não há mais porque ir á vendinha da esquina comprar laços de fita pra o vestido azul. Não há mais porque sentir que o amor é misteriosamente belo quando a água da chuva cai sobre si. Não há mais sorrisos e olhares que sussurram mais que palavras, não tem mais a menina- ás vezes mulher ás vezes anjo- pra admirar todo aquele “balanço de cabelo quando era colocado ao vento de um sereno noturno”. As cores vivas de uma existência se encerravam e deixavam um outro alguém em processo de solidão, que arrancava de si a alegria de forma brutal e deixava sua princesinha ainda linda, deitada sobre o branco. Flores ao chão, um viajante pela metade sendo castigado e jogado ao fardo infiel que é o destino. E a partir de agora só havia a certeza que seu coração era guardião de um amor que sabia ser eterno, à sua espera sempre haveria alguém que ia além daquela pele branquinha, da serenidade na feição, como um copo-de-leite raro plantado no jardim.

COMPARTILHE:

JOIN COMENTÁRIOS

3 comentários:

  1. Inaugurandooooooo' Uma belissima história! Pra abrir com "chave de leite"
    Parabéns e muito sucesso!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. ce gosta de escrever texto viu?? sucessinho sucessao.

    ResponderExcluir